Foto: Alberto WU/Futura Express. |
Entrevistada
pela BBC Brasil, ela contou que, após trabalhar como cozinheira em casas de
família em São Paulo por duas décadas, estava feliz com o emprego em uma rede
de supermercados e, em especial, com a volta à sala de aula.
Além
de frequentar o Pronatec, na época Laurenilcy também cursava uma faculdade de
Marketing, paga com ajuda do Fies – o Fundo de Financiamento Estudantil, outro
carro-chefe da campanha de Dilma.
Dez
meses depois, pouco parece ter sobrado desse entusiasmo. "Foi tudo uma
grande decepção", diz Laurenilcy.
"No
final do ano houve atrasos nos repasses para cursos Pronatec. Alguns
professores acabaram sendo demitidos e passamos correndo por alguns conteúdos.
Consegui concluir o curso, mas com a economia em baixa não tenho perspectivas
de aproveitar o que aprendi. As notícias dos cortes no Pronatec e as novas
regras para o FIES também me fizeram pensar que podia não valer a pena investir
tanto nos estudos... que esse apoio do governo poderia não ser sustentável.
Acabei desistindo até da universidade", conta a maranhense.
Sua
colega de curso Marieuleni Barreto também se diz decepcionada com os rumos do
programa. Ela conta que o projeto contribuiu para sua decisão de votar em Dilma
nas eleições de outubro. "Imagino que esses cortes tenham sido inevitáveis
dado a situação da economia, mas para mim representaram uma grande
frustração."
'Ajuste
necessário'
Desde
2011, quando o Pronatec foi criado, 8 milhões de pessoas passaram pelo
programa. A promessa feita pela presidente durante a campanha era matricular
mais 12 milhões estudantes até 2018.
Nos
primeiros meses deste ano, porém, o Ministério da Educação (MEC) já anunciou
que em 2015 a oferta de vagas cairá 60% - dos 2,5 milhões de 2014 para apenas 1
milhão.
A
redução faz parte dos esforços para a promoção de um ajuste fiscal: no total,
devem ser cortados mais de R$ 9 bilhões do orçamento para a educação.
"O
ajuste fiscal se baseia numa realidade", explicou o ministro da Educação,
Renato Janine Ribeiro, em entrevista à BBC Brasil no início do mês.
"Tem-se
menos dinheiro, então o que estamos fazendo é procurar preservar ao máximo
possível a qualidade dos programas, sua essencialidade, e escalonar o que não
possa ser feito neste ano para fazer no futuro. E também reavaliar projetos e
programas em andamento para ver onde podem ser aprimorados."
Fernando
Soria, vice-presidente executivo das Faculdades Sumaré, uma das instituições
privadas provedoras de cursos Pronatec diz que "todos entendem que o
ajuste fiscal era necessário".
"O
problema é que as promessas sobre o programa criaram uma série de expectativas
entre estudantes e provedores que não serão atendidas. Faculdades como a nossa,
que acreditaram no programa e se prepararam para oferecer seus cursos, agora
estão no prejuízo."
Na
primeira fase do Pronatec, a Sumaré teria recebido autorização para abrir 7 mil
vagas. Hoje, ainda tem 800 alunos, mas, segundo Soria, não teve nenhuma vaga
aprovada para o próximo ciclo do programa.
"Fomos
obrigados a demitir 200 pessoas, entre professores, coordenadores e
funcionários administrativos. Investimos mais de R$ 4 milhões para participar
do programa e oferecemos até tablets grátis para os alunos acompanharem os
cursos. Mas depois de outubro, o governo começou a atrasar os repasses. Acabou
a eleição, acabou o pagamento. Chegamos a ter 4 meses de atraso."
Henrique
Gerstner, diretor das Escolas e Faculdades QI, maior rede privada de ensino
técnico do sul do país, também relata atrasos de "3 ou 4" meses nos
repasses de recursos e critica a forma como foram feitos os cortes.
No
caso da QI, as vagas aprovadas passaram de 1.800, em 2014, para 1.050. "A
questão é que nunca tivemos qualquer indicação de que haveria uma redução dessa
magnitude. Em um governo que tem como lema 'Pátria Educadora', fomos pegos de
surpresa", diz ele. (Uol/BBC Brasil)
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