Prosear com amigos é bom, seja na praça, no campo de peladas de futebol, no restaurante, na feira livre, na fila do banco, enfim, trocar e jogar conversa fora com amigos é sempre é bom!
De modo muito particular, dialogar com amigos no bar de “Neco Rato” é acontecimento impar, singular, de estilo esfuziante.
Constituído de espaço modesto e pequeno, servido por uma boa energia e pelo refinado humor do proprietário (?), somos conduzidos a viagens reais e imagéticas, percorrendo o cosmos.
Alheios ao movimento dos ponteiros do velho relógio que vigia a parede central da bodega, homens livres da labuta semanal, mergulham sentimentalmente em doses alvas da melhor aguardente brejeira ou mesmo, aos goles lentos da cerveja gelada, a uma caminhada silenciosa rumo a si mesmo.
De modo aleatório e espontâneo vão surgindo os mais diversos e complexos assuntos: Sejam sobre os jogos de futebol, apostas lotéricas, decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal: deferindo ou indeferindo sentenças.
Tecer teorias sobre o perfil do novo Papa ou até mesmo, sobre a política econômica atual, não se torna tarefa difícil para os adeptos do bar. Aqui, o Brasil cabe num copo de cerveja.
No estreito balcão, os copos ficam enfileirados, onde cada um demarca o espaço do seu tribunus. Nas paredes laterais, dois painéis gigantes registram fotograficamente uma plêiade de valorosos boêmios, outro homenageia os que já partiram para o andar de cima.
De repente, por ato e responsabilidade de um dos frequentadores, em meio a tantas falas, risos, olhares e gestos, faz ecoar do fundo da bodega - em estilo Galego aboiador - um canto de aboio:
“Nessa linha que escrevo/ com a caneta na mão/ lembrando de um alguém/ que me fez ingratidão/ mas ainda tenho saudade/ dentro do meu coração.”
Cantata memorável, capaz o suficiente para Neco Rato libar sua dose de aguardente brejeira.
Com olhar de observatório, o filho mais novo exclama em voz baixa: “Se mãe vê!”
Na pequena calçada de cimento grosso, onde estão posicionadas duas mesas, reúnem-se outros bêbados, travados em amistoso jogo de bozó ou com palito de fósforos (nada sério) buscando a sorte de poucos reais e prolongamento da farra deste encantado mundo boêmio, enquanto Neco Rato de maneira mansa e dissimulada, estimula os embates do viver cotidiano, combustível preponderante para a permanência dos associados etílicos.
Como todo bar tem regras, em “Neco Rato” não poderia ser diferente. Enquanto uns cobram o couvert artístico, os 10% do garçom, no refugio boêmio do Juá, por decreto etílico nº51, todos estão livres da incômoda tributação. Ali não se pode fumar, nem mesmo ligar o som do carro. Pedir redução na conta sob o questionamento de que a soma está errada, só cabe aos desavisados.
“Neco Rato” não é apenas um bar, mas uma trincheira onde a vida brinda eloquentes histórias.
Guarabira, 08 de julho de 2025.
Percinaldo Toscano
- Professor e Pesquisador
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