História que ouvir contar: historiador e cronista retrata momentos de ouro do futebol amador guarabirense.

Professor Percinaldo Toscano, autor do artigo, traz destaques contados por Garibaldi, ex-atleta do Treze de Otávio. 
Garibaldi, ex-atleta do Treze de Otávio. Foto: Reprodução / Facebook
HISTÓRIA QUE OUVIR CONTAR

Nas cidades interioranas do Nordeste brasileiro, onde não existe afazeres para todos, torna -se quase necessário preencher as horas em momentos de comunhão, onde em grandes e médios círculos, à sombra das árvores, jovens homens e mulheres socializam acontecimentos das vidas pessoais, do comportamento dos políticos da cidade, da vida religiosa, do esporte, enfim, de tudo se fala um pouco ao passar das horas.

Outro dia escutei de um amigo, em uma destas rodas de conversas, a história de um aguerrido atleta de futebol amador aqui de nossa querida terrinha,  que jogava defendendo as cores Alvinegra do Treze Futebol Clube, dirigido por Otávio Paiva e que por isso a equipe também era reconhecida como Treze de Otávio. Cidadão simples, funcionário por muitos anos no sodalício Clube Recreativo Guarabirense e que tinha como prazer investir seus poucos recursos na manutenção do seu clube de paixão. 

Ali, pertinho da casa de Seu Batista do Colchão e de Seu Manoel Cobra, estava a sede do Galináceo guarabirense, onde nas alturas da cumieira um airoso galo identificava seu ninho.  Atletas de elevado conceito no futebol local como: João Bandeira, Toinho Casa Nova, Bigão, Burro Mago, Hélio, Leonel, Beba, Garibaldi, Santiago, Damião, Wando, Zezinho, Terezão, Pirralho, Ledinho, Neném, Adeildo, Chiquinho, Ido, Aiá e tantos outros vestiram as camisas trezeanas. Nesta equipe, Garibaldi, talvez embalado pela energia e poesia da camisa 7, exibia-se entre as linhas do gramado, como se estivesse dançando tango ao som de Piazzolla, fazendo da bola sua  inseparável companheira, nas tardes de domingo, expressando seu protagonismo sob céu límpido e sol ardente despejado no estádio Silvio Porto, nosso “Jardim Suspenso do Brejo”, lembrando Marcus Aurélio, comentarista esportivo do rádio paraibano.

Mas eis que chega o grande dia, onde a equipe da Rua Clemente Pereira e cercanias, estava mais uma vez disputando o título máximo da competição, enfrentando a recente equipe rubro-negra, Guará Futebol Clube, que ao contrário do Treze, era economicamente superior, e por isso se utilizou de recursos antidesportivo para afastar Garibaldi desta tarde calorosa para o nosso futebol.

Imbuídos de ação indecorosa, dirigentes do Guará tentaram impedir a participação do nosso Garibaldi Cavalcante Melo, proporcionando-lhe um domingo de farra, com muita comida e bebida. “Como estava gostoso: cerveja gelada e frango assado” – nos contou Gari -. Tudo parecia que daria certo para o astucioso golpe, mas Garibaldi tinha um compromisso  com sua equipe, com seu amigo de trabalho Otávio Paiva, e tudo naquele momento era possível, menos trair amigos, dentro ou fora de campo. O tempo passava e aproximando-se das  15 horas, sem hesitar, Garibaldi despede-se desse bom momento e parte ao encontro dos companheiros de futebol. O jogo já tinha começado e o seu time de coração perdia por 1 X 0, num gesto desesperador Otávio Paiva bradava ao tempo em que fumava um cigarro atras do outro, enquanto seus adversários vibravam pela ausência do goleador do Treze. Termina o 1º tempo.

Restavam 45 minutos, tempo suficiente para não perder o jogo, e num clima de desalento para os adversários surge Garibaldi, fazendo seu aquecimento físico, demonstrando que nada teria acontecido além do normal, depois de tantas cervejas e farra boa, estava em campo para fazer o que muito sabia, jogar futebol arte e produtivo, fazer a torcida gritar gol, ver Otávio feliz e seu time vencedor. A torcida estava tensa até o momento em que nosso herói recebe a bola, diante de dois zagueiros, num clima de profunda confiança dribla o primeiro e entre as pernas do segundo faz sua companheira rolar diante do goleiro e num chute certeiro balança a rede rubro-negra, empatando o jogo.

Restavam vinte minutos para o encerramento do jogo, Otávio Paiva abria sua segunda carteira de cigarro Continental sem filtro, desta vez, mais por felicidade do que por ansiedade. Ao seu lado, o abnegado Pacotinho, criatura dócil e prestativa para com as coisas do Treze, sempre confiante na vitória de sua equipe, acalmava pacientemente os reservas. Com o exíguo tempo restante, tudo parecia inalterado, quando uma falha defensiva do Guará E. C., permite novamente, ele  Garibaldi, a encontrar-se com a bola, muito mais do que uma simples bola de futebol, mas uma cumplice de muita afinidade, amizade que me faz lembrar D. Quixote e companheiro Sancho Pança e numa jogada rápida e feliz, balança a rede, o véu adversário marcando o segundo gol, dando a vitória ao Treze de Otávio Paiva, de Pacotinho, da família Bento Souto,  leve e rápido como um colibri, corre aos braços de Otávio Paiva e lhe abraça, chora, ajoelha-se aos pés do fiel amigo e agradece aos céus. Hoje com 75 anos, no gozo de sua aposentadoria, Garibaldi narra brilhantes histórias de sua vida, deixando  o exemplo de que não precisamos desdenhar, nem tão pouco se tornar vitorioso através de atitudes aviltantes.

Guarabira, 23 de julho de 2024.

Por Percinaldo Toscano / Historiador e Cronista


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