As cidades não se impõem apenas pelo seu tamanho geográfico ou pela cor da pele de seus habitantes, nem tão pouco pelo dialeto que fala sua gente, mas essencialmente pela memória que desprende dos olhares e falas dos seus munícipes. Lembrei-me agora dessa afirmativa pelo fato de ter sido questionado por uma jornalista amiga, quanto ao significado dos codinomes “Praça dos Pombos” e “Bambuluá”, ambos designados ao mesmo logradouro central da cidade de Guarabira, oficialmente denominado de Praça João Pessoa.
Para inicio de conversa, caro leitor, sem artificialismo, afirmei que esta tão importante praça constitui uma de nossas geografias da lembrança, que o tempo construiu desde os anos de 1932, sendo reconstruída por várias vezes, deixando cravado na alma citadina a ação de homens e mulheres.
Foi no ano de 1954, que o prefeito Augusto de Almeida (1951/1955) realizou na referida praça a sua primeira transformação, inspirado numa viagem que fez a Espanha, quando foi tocado pelo ideal da modernidade.
Augusto demoliu o majestoso coreto edificado em 1932 por Ferreira de Melo, símbolo do romantismo e do convívio social da década de trinta, deixando em seu lugar uma nova praça, exibindo em sua lateral uma concha acústica, bancos longos e curvos, jardins em formatos livres, desobedecendo o estilo de linhas retas, além de dois pequenos bares, que em suas coberturas estavam os abrigos para os pombos, que se multiplicavam entre telhados e beirais, dando novo nome ao espaço: Praça dos Pombos.
Mesmo respirando um novo urbanismo, Guarabira deixava esvair pelas ruas e calçadas os acordes memoráveis das bandas de músicas, interpretando os mais belos hinos e boleros.
Como diz o poeta, “o tempo não para”, “eu vejo o futuro repetir o passado”.
Em 2001 a prefeita Léa Toscano reimagina a praça, traz uma nova ideia através do projeto da arquiteta Janete Costa, desenhando um novo contorno para nosso cartão postal.
A Praça de Augusto de Almeida deu seu lugar a um novo projeto, marcado por linhas retas, cores vibrantes e olhar voltado para o lazer e comércio local. No centro, edificado em circulo surge espaço para oito bombonieres e nos cantos dois quiosques substituem os passados bares de Dona Maria Macêdo e Dona Dalva Cândido.
Contornando a praça, jardineiras emolduram o espaço como se fossem braços protetores. O piso ganha a elegância das pedras portuguesas.
Nesse cenário colorido e vibrante, crianças e adultos passaram a chamá-la de “Bambuluá”, numa alusão a cidade fictícia de um programa infantil da TV Globo, onde tudo respirava alegria e encantamento.
Não só a Praça dos Pombos dos anos 50, mas a Bambuluá de hoje, sempre nos convidaram ao encontro, ao passeio e ao tempo vivido com leveza. Em meio a pombos, coreto, concha acústica e bombonieres, a praça se reinventa, assim como Guarabira, firme em suas raízes e aberta ao novo.
Por Percinldo Toscano
- Professor e Pesquisador
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