Nos últimos meses, moradores de cidades da Paraíba têm se deparado com lagartos de médio e grande porte em quintais, praças, parques e telhados. Iguanas, teiús e o popular papa-vento, são espécies silvestres que passaram a ser vistas com mais frequência em áreas urbanas. Diante disso, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Paraíba (Semas-PB) e o Conselho Regional de Medicina Veterinária da Paraíba (CRMV-PB) fazem um alerta: esses animais não são domésticos, eles fazem parte da fauna nativa, não são perigosos e devem ser respeitados e protegidos.
A presença desses répteis nas cidades está diretamente relacionada ao avanço da urbanização sobre áreas naturais. Com menos espaço e recursos nos ambientes originais, os animais acabam encontrando nas zonas urbanas um novo local de abrigo e alimentação. Mas isso não significa que estão invadindo o espaço das pessoas — é a cidade que avançou sobre o território deles.
Entre os lagartos mais encontrados estão a iguana-verde (Iguana iguana), o teiú (Salvator merianae) e o papa-vento (Polychrus marmoratus). Este último é comumente chamado de camaleão, mas essa nomenclatura é incorreta: os verdadeiros camaleões não existem na fauna brasileira, sendo nativos da África, Ásia e Europa. O papa-vento é um lagarto arborícola típico do Brasil, com alguma capacidade de variação de cor, o que reforça a confusão com os camaleões africanos.
Apesar da aparência exótica, esses répteis não são perigosos. Segundo a médica-veterinária Lilian Eloy, que atua com animais silvestres, a maioria desses animais é pacífica e prefere fugir do que atacar. “Eles só mordem ou se defendem em situações de extremo estresse ou quando se sentem acuados. Não são predadores de humanos, nem oferecem risco direto, desde que respeitado o espaço deles”, explica.
Ainda assim, como qualquer animal silvestre, podem carregar parasitas — como ácaros ou carrapatos — e, em raros casos, bactérias que causam zoonoses (doenças transmissíveis aos humanos). Por isso, o contato direto deve ser sempre evitado. “Além dos riscos de saúde, o contato frequente com humanos pode estressar o animal, provocar comportamento defensivo e aumentar o risco de acidentes”, completa Lilian.
O maior perigo com iguanas é a cauda, que pode ser usada como um chicote em situações defensivas, o que pode causar ferimentos a alguém. Já o teiú apresenta um maior perigo com mordidas, especialmente se se sentir acuado ou ameaçado.
Recomendação – A recomendação das autoridades ambientais é clara: ao encontrar um lagarto em ambiente urbano, não tente capturar, não toque e nunca alimente o animal. Se o réptil estiver saudável e em local seguro, apenas observe à distância. Caso esteja ferido, dentro de residências, preso ou em situação de risco, a população deve acionar o Batalhão da Polícia Ambiental, pelo telefone 190.
O gerente executivo de Fauna Silvestre da Semas-PB, Juan Mendonça, reforça que esses animais não podem ser tratados como bichos de estimação. A criação de fauna silvestre sem autorização é ilegal e compromete o bem-estar do animal. “Iguanas e teiús precisam de ambientes naturais, com sol, vegetação e espaço. Criá-los em cativeiro doméstico é cruel e criminoso”, alerta.
Além disso, maltratar ou manter animais silvestres em casa sem autorização é crime ambiental, conforme a Lei Federal nº 9.605/98. A pena pode incluir detenção de até um ano, além de multa. Segundo a legislação, a fauna silvestre brasileira é um bem coletivo, e sua preservação é dever de todos.
Equilíbrio ambiental – Embora sejam muitas vezes vistos com medo ou desconfiança, esses lagartos exercem um papel ecológico fundamental, conforme explica Juan: controlam populações de insetos, pequenos roedores e ajudam a manter o equilíbrio dos ecossistemas urbanos e rurais. O teiú, por exemplo, é um excelente predador de ovos de pragas, enquanto a iguana contribui para a dispersão de sementes.
“Esses animais vivem silenciosamente ao nosso redor e prestam serviços ambientais importantes. A convivência com a fauna exige informação, respeito e cuidado. Ao invés de afastá-los, precisamos aprender a compartilhar o espaço com eles de forma segura”, conclui Juan Mendonça.
Importante:
- Não toque, não tente capturar e não alimente.
- Se o animal estiver ferido ou em risco, ligue 190 (Polícia Ambiental).
- Não mantenha esses animais em casa. A criação doméstica é ilegal.
- Maus-tratos a animais silvestres são crime e devem ser denunciados.
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