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Coreto (hoje desativado) da Praça João Pessoa em Guarabira. Foto: Reprodução/CEDOC Guarabira. |
Conforme escritos do professor, poeta e historiador guarabirense Moacir Camelo de Melo, por vontade e desejo de Alfeu Rabelo, Guarabira teria criado o seu Grêmio Guarabirense de Artes e letras, por volta da segunda metade dos anos 30. Nessa investida estavam envolvidos Abdon Soares de Miranda e Dustan Soares de Miranda. O projeto - sonho de Rabelo - não ganhou forma e nosso Grêmio estava natimorto.
Este fato não inibiu, contudo, as atividades literárias exercidas na cidade, que por volta dos anos 40, no Ginásio de Nossa Senhora da Luz, através de seus alunos, foi criado o primeiro Grêmio Literário de Guarabira.
É importante registrar que este grêmio estudantil inaugurou o Jornal “O arco-íris”, publicando crônicas, artigos e poesias, tendo Lindalva Xavier como uma de suas principais cronistas.
Outras tentativas aconteceram em direção a uma produção literária genuinamente guarabirense e nos anos 60 surge o “Grêmio Literário Cleodon Coelho”, que também não se encontrou com a produção literária dos intelectuais e estudantes da época.
Após as insistentes e latentes tentativas dos jovens estudantes guarabirenses, em 1962, os alunos da Escola de Comércio Santo Antônio, em reunião no ciclo operário de Guarabira, criaram o “Grêmio Literário João Pessoa” – certamente em homenagem ao governador assassinado em 1930 - onde estavam presentes Moacir Camelo e seu irmão Hermes, José Getúlio Martins, Germano e Kleber Toscano, Ivaldo Lucena, Jose Gomes Caminha, Roberto Olideneres, Ronald Oliveira e muitos outros. Dirigido no primeiro mandato pelo estudante Moacir Camelo, o “Grêmio Literário João Pessoa” desempenhou importante papel político junto à sociedade guarabirense, participando e opinando sobre os temas inerentes a cultura e politização da classe estudantil.
O acirramento da disputa eleitoral municipal de 1963 foi um marco na desarticulação e extinção do “Grêmio João Pessoa”, pois duas correntes extremamente opostas ideologicamente se enfrentavam no pleito: de um lado o médico João de Farias Pimentel (UDN/PDC), ladeado de Silvio Porto e Joacil de Brito, do outro lado, o advogado e ex-deputado federal (1945) Osmar de Aquino (PSB/PSD), que recebeu o apoio de Assis Lemos, líder das Ligas Camponesas, e Maria do Carmo, comunista, irmã de Osmar. Deflagrada a vitória de Pimentel, o “Grêmio Estudantil João Pessoa”, por absorver o clima do acirramento eleitoral e ideológico que tomou conta da eleição, declina, e com ele suas ações mais legítimas em busca de liberdade.
Passados 12 anos da instalação do Golpe de 64, em pleno exercício dos anos de exceção, estudantes guarabirenses, entre universitários e secundaristas, ladeados ombro a ombro, criam nova representação cultural e política em defesa da liberdade de expressão e promoção da cultura guarabirense. Estava criado o “Grêmio Cultural de Guarabira”. Era 20 de janeiro de 1976.
Além de resistência às ações repressivas contra os estudantes brasileiros, foram bandeiras de luta do “Grêmio Cultural de Guarabira” realizar inúmeras ações em fortalecimento da democracia, priorizando a criação do “Jornal do Brejo”, tabloide porta-voz do pensamento libertário; promoveu também a prática teatral através do grupo “Matulão”, estreando com a peça “O Santo e a Porca” de Ariano Suassuna, como forma de aglutinar os jovens e sonhadores estudantes, sob as lideranças de José Barbosa da Silva, Antônio do Amaral, Aderbaldo Soares, Isaac Trajano, Isabel Cavalcante, Josemar Leite, Homero Beserra, Humberto Araújo, Humberto Trocoli, Ronaldo Elesbão, Alexandre Henriques, Vicente Barbosa, Calcélio e Percinaldo Toscano, entre tantos outros.
O Grêmio Cultural de Guarabira não teve vida longa em face dos olhares sombrios de uma sociedade retrógrada e conservadora, mas exerceu de modo heroico suas convicções democráticas, além de deixar um legado de esperança e de que é preciso sempre lutar por direitos de inclusão na vida social e política da cidade, do estado e do País.
Por Percinaldo Toscano
(Professor e Cronista)
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