Na pior fase da pandemia, as pessoas mais vulneráveis e que acumulavam os piores índices de internação e óbitos foram protegidas com a vacina.
Foto: Divulgação / Jornal de Brasília. |
Essas manifestações têm duas origens distintas mas que se retroalimentam de forma perversa. Algumas pessoas com PhD desqualificam o debate que, antes de tudo, é sobre saúde pública. Os questionamentos mais comuns oscilam entre “os dados ainda não foram publicados” e “a eficácia geral da vacina é baixa”. Essas colocações refletem a má vontade com a vacina, pois estes comentadores se furtaram de analisar o repertório de dados disponíveis sobre segurança, eficácia e eficiência da Coronavac.
Há quem preste vassalagem à ciência ocidental e às suas multinacionais. A China, país que desenvolveu inicialmente a vacina no início da pandemia, tem seu valor reduzido simplesmente por estar fora do estabelecido eixo norte-norte. O ressentimento de outros que não participaram diretamente do sucesso da vacina que garantiu o início do programa de vacinação em massa tem se disfarçado de ciência.
O mais grave é que essas pessoas qualificadas, creio que de forma não intencional, têm dado aval a um discurso de ódio presente na outra parte dos ataques, vinda de pessoas sem conhecimento científico. Desse lado temos a torcida organizada da cloroquina e de outros tratamentos mágicos, membros da coorte belzebuniana que comemora os mais de 514 mil mortos no Brasil e que participam de equivocadas motociatas pelo Brasil. Esses não buscam um diálogo. Um “chip implantado por meio de uma microagulha” é mais factível que a comprovação científica atestada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a validação da vacina pela autoridade máxima que trata de políticas públicas de saúde no mundo, a OMS (Organização Mundial de Saúde).
Estamos presenciando uma ação para desconstruir a vacina que tem o brilho de ter sido a primeira no Brasil e que foi responsável por toda a fase inicial do Programa Nacional de Imunização. Na pior fase da pandemia, as pessoas mais vulneráveis e que acumulavam os piores índices de internação e óbitos foram protegidas. O resultado nesses dois grupos, idosos e trabalhadores da saúde da linha de frente, foi constatado na prática. Atualmente, somam-se mais de 50 milhões de doses aplicadas.
Em resposta a essas críticas, o artigo relativo ao estudo da fase 3 está disponível no portal SSRN. A revista científica The Lancet publicou recentemente dados de segurança da Coronavac em crianças a partir de três anos e adolescentes. No Uruguai, conforme relatório do Ministério da Saúde, a Coronavac foi mais eficaz em reduzir mortes, chegando a 97%, comparado à outra vacina utilizada naquele país, que obteve performance de 80%.
O grande destaque para o Instituto Butantan é, no entanto, a condução do primeiro estudo controlado de eficiência nessa pandemia, ocorrido no município de Serrana (SP), com 45 mil habitantes e 28 mil adultos com mais de 18 anos. Cinco semanas após a última vacinação, observou-se redução de 95% nos óbitos, 86% nas internações e 80% nos casos sintomáticos. Mas o que mais chamou a atenção é que esses números foram verificados na população geral, além da população adulta vacinada. Quanto ao tema “imunidade coletiva”, objetivo principal durante um surto epidêmico, tudo indica que esse efeito foi atingido com a vacinação de 75% da população adulta. Acreditamos se tratar de uma colaboração significativa para a discussão.
Em conjunto, esses estudos mostram a segurança, a eficácia e a eficiência da vacina Coronavac produzida pelo Butantan em associação com a Sinovac. Temos uma vacina que está salvando a vida de milhares de pessoas no Brasil e no mundo.
Dimas Tadeu Covas
- Cientista e professor da USP, é diretor do Instituto Butantan e membro do Centro de Contingência do Coronavírus do governo do estado de São Paulo.
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