São Paulo (Folha Press), |
A
terceira manifestação nacional contra o governo Dilma neste ano, após protestos
similares em março e abril, acontece depois de uma semana em que a presidente
ganhou fôlego político, com decisões favoráveis a ela no Judiciário e uma
reaproximação com o Senado, especialmente o presidente da Casa, Renan Calheiros
(PMDB-AL).
Rio (Folhapres). |
Entretanto,
os manifestantes que foram às ruas neste domingo não pareciam dispostos a dar
trégua à presidente. Em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e
Brasília destacavam-se enormes faixas verdes e amarela com os dizeres
"Impeachment Já" em preto.
Os
manifestantes não pouparam também o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
cuja popularidade chegou à casa dos 80 por cento no período em que comandou o
país. Na capital federal, um enorme boneco inflável fazia referência a um Lula
vestido de presidiário em meio aos 25 mil manifestantes estimados pela Polícia
Militar.
Vestidos
com camisas da seleção brasileira e de verde e amarelo, os manifestantes
aproveitaram o dia de sol em várias cidades do país e, no Rio de Janeiro,
tomaram a orla de Copacabana com gritos de "Fora PT" e elogios a Moro.
"A
corrupção no Brasil chegou ao limite do limite, e esse governo desonra os
brasileiros dignos", disse o advogado Carlos Andrade, que foi a Copacabana
acompanhado da família.
Em
Belo Horizonte, os manifestantes contrários à presidente se reuniram na Praça
da Liberdade e o protestos na capital mineira contou com a presença do
presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), derrotado por Dilma na eleição do
ano passado. O tucano teve o nome gritado por um grupo de manifestantes ao
chegar para o protesto.
Em
São Paulo, os participantes da manifestação se reuniam no vão livre do Museu de
Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista. Em um contraponto aos protestos
anti-PT, militantes do partido e sindicalistas se reuniam em frente à sede do
Instituto Lula, na zona sul da cidade, com bandeiras do PT e cartazes de defesa
da democracia.
Os
protestos também aconteciam em capitais como Belém, Maceió e Salvador, além de
cidades do interior do país. Em Jundiaí, a 60 quilômetros de São Paulo, numa
das avenidas mais movimentadas da cidade, um caminhão de som tocava músicas
contra o governo Dilma e com muitas palavras de ordem também contra Lula.
BAIXA
POPULARIDADE
Segundo
pesquisa Datafolha, 71 por cento dos entrevistados para a sondagem consideram o
governo Dilma ruim ou péssimo e 66 por cento são favoráveis ao impeachment e,
diante desse cenário, Dilma decidiu ficar em Brasília no fim de semana para
acompanhar as manifestações com ministros do núcleo de coordenação política.
A
presidente pode designar um de seus auxiliares diretos para fazer uma avaliação
oficial dos protestos, informaram duas fontes do governo.
Os
protestos pelo impeachment de Dilma acontecem em meio a um certo alívio conseguido
pela presidente na última semana. Seu governo se reaproximou de Renan e do
Senado, fazendo um contraponto à situação difícil enfrentada na Câmara dos
Deputados, cujo presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) rompeu com o governo após
ser acusado por um delator da Lava Jato de pedir propina.
Também
colaborou para dar um certo fôlego à gestão petista as decisões do Tribunal de
Contas da União (TCU) e do Judiciário.
O
TCU deu prazo de mais 15 dias para o governo dar explicações sobre suas contas
do ano passado, em análise no órgão; do ministro Luís Roberto Barroso, do
Supremo Tribunal Federal (STF), de determinar que as contas do governo sejam
avaliadas em sessão conjunta do Congresso; e do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), que adiou a decisão sobre a continuidade de um processo que pede a
cassação de Dilma.
Integrantes
do governo, políticos e analistas, no entanto, têm adotado postura cautelosa em
relação a esse fôlego conseguido por Dilma. Isso por conta das manifestações e
das investigações da Lava Jato, apontadas como imprevisíveis e classificadas de
"fio desencapado" por um importante parlamentar da base aliada.
Paralelamente,
Dilma tem afirmado em discursos e entrevistas que não renunciará ao cargo e tem
ainda pregado o respeito à democracia e ao resultado das eleições. (Reuters/Eduardo Simões)
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