Especialista em Educação Sexual ensina a docentes como falar sobre pornografia com seus alunos


Maria Helena Vilela é diretora executiva do Instituto Kaplan onde coordena a área de Educação Sexual e tem um blog, “Direto ao Ponto” hospedado no site da Revista Escola Abril, que fala sobre sexualidade na educação; confira o seu artigo, ‘como falar sobre pornografia com seus alunos”.

A pornografia não é uma questão nova. Quando estudei no antigo ginásio e científico, bedéis e professores já tinham que lidar com o acesso dos alunos a esse material. As cartilhas pornográficas do “Dr. Buçu”, desenhadas à mão, com uma impressão de má qualidade e em papel muito simples, entravam clandestinamente na escola escondidas entre páginas de livros e cadernos e provocavam euforia e muita curiosidade durante os intervalos das aulas da Escola Estadual Moreira e Silva, em Maceió.

O que mudou recentemente é a facilidade de acesso a esse material, principalmente a partir da internet: crianças e jovens ficam a um clique de imagens e vídeos. Na União Europeia (UE), por exemplo, um estudo concluiu que 25% dos jovens com idade entre 9 e 16 anos já tinham visto imagens de cunho sexual. Em 2010, uma pesquisa na Grã-Bretanha revelou que quase um terço dos jovens com idade entre 16 e 18 anos havia visto fotos de natureza sexual em celulares, na escola, mais de uma vez por mês.

E aqui no Brasil, será que é muito diferente? Não consegui localizar nenhuma pesquisa brasileira nesse sentido, mas podemos inferir que o acesso a internet é muito fácil para grande parte de crianças e jovens brasileiros. E para compartilhar essas descobertas com um amigo, é só um clique e pronto! Já está na mão do outro e assim por diante…

As crianças estão crescendo em um mundo sexual totalmente livre e isso inclui acesso fácil à pornografia na internet. Nós educadores temos a obrigação de promover os recursos necessários para que elas aprendam a lidar com isso de forma saudável.

O papel da escola

De clique em clique os jovens vão acessando o mundo da pornografia, saciam suas curiosidades e aprendem até mesmo a fazer sexo. Há jovens, aliás, que usam a pornografia como uma referência para iniciar a vida sexual, como foi o caso de alguns usuários do SOSex, plantão de dúvidas que atendi no Instituto Kaplan.

O problema é que em vez de ensinar, a pornografia pode causar insegurança, ansiedade e ainda distorcer as ideias dos jovens sobre as relações e as práticas sexuais: os pênis são sempre enormes e dispostos ao sexo sem nunca perder a dureza, as mulheres são submissas a qualquer experiência sexual, a aparente preferência de posições e práticas sexuais como a de cachorrinho e o sexo anal, sem contar os absurdos de pedofilia, zoofilia e a impressão de naturalidade e aceitação dos casais em relação ao sexo grupal.

Numa única navegada um jovem pode descobrir coisas e entrar em contato com cenas sexuais que nem poderiam imaginar que existiam ou que seriam possíveis de existir, ou, pior, de se admitir. Esse é o perigo da pornografia: um sexo virtual que pode está bem longe da realidade.

Nós, especialistas em Educação Sexual, acreditamos que um bom trabalho de Educação Sexual na escola pode diminuir a curiosidade sexual de crianças e adolescentes e esvaziar a busca por sites de pornografia, além, é claro, de melhorar a qualidade de vida sexual de nossos jovens.

Minha experiência me faz acreditar muito nisso, mas o trabalho de Educação Sexual precisa ir além dos aspectos fisiológicos reprodutivos e das Doenças Sexualmente Transmissíveis: precisamos falar sobre as curiosidades e mitos que estimulam as buscas na internet. Já tratamos de alguns desses temas neste blog: resposta sexual, práticas e dificuldades sexuais, valores e expectativas no relacionamento afetivo e sexual, dentro muitos outros.Veja os posts: O que falar sobre DSTs de um jeito não chato, Primeira vez: quando é chegada a hora, O perigo da exposição nas redes sociais, Perda do apetite sexual: como isso afeta os alunos.

Nosso papel como educadores, além de trabalhar temas que deem respostas às dúvidas sexuais dos jovens, e alertar para os riscos dos sites pornográficos, é também ajudar nossos alunos a perceber que na pornografia, nem tudo é real e que há muitos truques para chamar a atenção dos consumidores. Os empresários do sexo pornô apelam para situações e ações extremamente raras ou fictícias, usando, inclusive, recursos fotográficos como a montagem.

Maria Helena Vilela
Uma boa forma de discutir o tema é a metodologia da problematização, que, vocês, professores, dominam muito bem. Abra uma roda de conversa sobre pornografia e internet e vocês se surpreenderão com a quantidade de informação que os alunos podem nos dar. Em seguida, peça para que escrevam de forma anônima uma situação que visualizaram ou ouviram de amigos e que geraram dúvidas. Pegue todas as dúvidas e coloque num saco ou caixa e vá lendo uma por uma. Após cada leitura, faça a problematização da situação para eles e peça que lhes ajudem a desvendar a resposta.  Acho que pode ser uma experiência e tanto!!!


E você, já conversou sobre pornografia com seus alunos? Compartilhe conosco!

(Revista Escola Abril/Gente Que Educa)

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