Pagamento envolveu 90 contratos de obras de grande porte entre a
Petrobras, empresas coligadas e consórcios de empreiteiras, segundo Pedro
Barusco
![]() |
Pedro Barusco, ex-gerente de serviços da Petrobrás (Divulgação) |
O ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco, afirmou à Justiça,
em acordo de delação premiada, que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari
Neto, recebeu de 150 milhões a 200 milhões de dólares em propina de 2003 a
2013, por meio de desvios e fraudes em contratos com a Petrobras. As revelações
de Barusco, ex-braço-direito de Renato Duque, que comandava a Diretoria de
Serviços por indicação do ex-ministro da Casa Civil e mensaleiro condenado José
Dirceu, colocam mais uma vez o caixa do PT no centro do escândalo do petrolão e
devem respingar diretamente nas campanhas políticas do partido, incluindo a da
própria presidente Dilma Rousseff. Vaccari foi levado na manhã desta
quinta-feira para a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo onde prestou
esclarecimentos sobre a arrecadação de recursos para a legenda e foi liberado
em seguida.
No depoimento, Barusco fez questão de destacar a relação de proximidade
entre Duque e Vaccari, nas palavras dele “um contato muito forte”. Segundo o
ex-gerente, Duque e o tesoureiro petista costumavam se encontrar no Hotel
Windsor, no Rio, e no Meliá, em São Paulo. Os encontros tinham finalidade
clara: trocar informações sobre o andamento de contratos, projetos e licitações
da Petrobras.
Ainda que tenha negado irregularidade no sistema de arrecadação de
campanhas do PT, Vaccari agora é confrontado pela primeira vez com as
informações do delator Pedro Barusco, que concordou em colaborar com a Justiça
em troca de reduções de pena. Após firmar o acordo de delação, o ex-gerente
confirmou, por exemplo, que iria devolver aos cofres públicos impressionantes
97 milhões de dólares recolhidos a partir do megaesquema de cobrança de propina
na Petrobras.
“Durante o período no qual foi gerente executivo de Engenharia da
Petrobras, subordinado ao diretor de Serviços, Renato de Souza Duque, de
fevereiro de 2003 a março de 2011, houve pagamento de propinas em favor do
declarante [Barusco] e de Renato Duque, bem como em favor de João Vaccari
Neto”, diz trecho do depoimento de Barusco. “João Vaccari Neto representava o
PT na divisão de propinas pagas no âmbito da diretoria de Serviços, nos
contratos que ela executava para as diretorias de Abastecimento, Gás e Energia,
Exploração e Produção e na própria diretoria de Serviços”, relatou.
Em seu depoimento, o ex-gerente não soube detalhar se o tesoureiro
petista recebia a propina em dinheiro ou em transferências no exterior, mas deu
revelações que complicam diretamente outro ex-diretor da Petrobras, Jorge
Zelada (Área Internacional). Segundo o delator, Zelada também recolhia propina
dentro da Petrobras e “negociava propinas diretamente junto a algumas empresas
em contratos menores na Área de Exploração e Produção”. Para receber dinheiro
do esquema de corrupção dentro da estatal, o ex-diretor Jorge Zelada fazia uma
espécie de “encontro de contas” com os demais integrantes da companhia. Em
alguns casos, a propina a Zelada foi entregue diretamente em sua casa, na rua
Getúlio das Neves, no Rio de Janeiro.
O pagamento de propina no esquema envolveu noventa contratos de obras de
grande porte entre a Petrobras, empresas coligadas e consórcios de
empreiteiras. Os contratos estavam vinculados às diretorias de Abastecimento,
Gás e Energia e Exploração e Produção. No rateio da propina, normalmente eram
cobrados 2% do valor do contrato, sendo que 1% era administrado pelo ex-diretor
Paulo Roberto Costa, e o outro 1%, repartido entre o PT e diretores da
Petrobras, incluindo Renato Duque e Jorge Zelada, da Área Internacional da
petroleira.
Enquanto as projeções de Barusco apontam que o tesoureiro do PT embolsou
até 200 milhões de dólares em nome do partido, no mesmo período o delator
recebeu 50 milhões de dólares em dinheiro sujo. Em apenas um contrato de sondas
de perfuração de águas profundas para exploração do pré-sal, Vaccari, em nome
do PT, recebeu 4,5 milhões de dólares em propina.
Ao relatar em detalhes o esquema de pagamentos na Petrobras, Barusco deu
um panorama da divisão do dinheiro recolhido do esquema criminoso e relatou que
ele próprio era habitué da movimentação de propina na estatal. Segundo o
próprio delator, ele começou a receber propina em 1997 ou 1998 da empresa
holandesa SBM Offshore enquanto ainda ocupava o cargo de gerente de Tecnologia
de Instalações da Petrobras. A propina entre a SBM e a Petrobras se tornou
“sistemática” a partir do ano 2000, com uma espécie de parceria fixa entre
Barusco e o executivo Julio Faerman, da empresa holandesa. Os pagamentos eram mensais,
variando de 25.000 dólares a 50.000 dólares. Em um dos casos, quando já ocupava
a gerência-executiva de Engenharia, recebeu 1% de propina de Faerman em um
contrato entre a empresa Progress e a Transpetro.
Faerman é apontado como homem-chave para desvendar o escândalo de
corrupção que envolve a Petrobras. Em uma denúncia feita por um ex-funcionário
da companhia holandesa SBM Offshore, ele é citado como o lobista responsável
por intermediar pagamentos de propina a funcionários da empresa.
Graça Foster – Em seu depoimento aos investigadores da Operação Lava
Jato, Barusco não apontou a presidente demissionária da Petrobras Graça Foster
como beneficiária direta de propina na estatal, mas afirma que parte dos
contratos onde o rateio de dinheiro era feito estavam vinculados à diretoria de
Gás e Energia, que já foi ocupada por Graça. Barusco indicou que Graça Foster
não sabia do esquema de propina e ponderou que se ela e Ildo Sauer, ex-diretor
de Gás e Energia, sabiam, “conservavam isso para si”.
O ex-gerente, porém, fez revelações que complicam diretamente outro
ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada (Área Internacional). Segundo o delator,
Zelada também recolhia propina dentro da Petrobras e “negociava propinas
diretamente junto a algumas empresas em contratos menores na Área de Exploração
e Produção”. Para receber dinheiro do esquema de corrupção dentro da estatal, o
ex-diretor Jorge Zelada fazia uma espécie de “encontro de contas” com os demais
integrantes da companhia. Em alguns casos, a propina a Zelada foi entregue
diretamente em sua casa, na rua Getúlio das Neves, no Rio de Janeiro.
Quando Renato Duque deixou a Diretoria de Serviços, em 2012, ele fez uma
espécie de acerto de contas com Barusco para receber parte da propina que havia
sido direcionada inicialmente ao auxiliar. No acordo, Barusco destinou valores
de futuras propinas para o ex-chefe – pelo acordo do Clube do Bilhão, as
empresas precisavam confirmar o pagamento de dinheiro na trama criminosa.
Apenas a Camargo Corrêa, por exemplo, devia 58 milhões de reais em propina na
época.
Depoimentos – No fim de novembro, Barusco prestou diversos depoimentos
reservados ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal após acordo de
delação premiada. Nas palavras de um dos investigadores, foram "demolidores"
no detalhamento da atuação de Renato Duque.
As revelações de Barusco foram a principal motivação da nova fase da
Operação Lava Jato, na qual Vaccari e outros dez operadores da Diretoria de
Serviços foram alvos. Com o cumprimento dos mandados, as informações não tinham
mais necessidade de sigilo, na avaliação da Justiça, e os depoimentos foram
disponibilizados em um dos processos contra executivos de empreiteiras. (Com a Veja Online)
Postar um comentário