A tranquilidade que caracteriza o bicho-preguiça contrasta com o novo cenário de convivência que esses animais vêm experimentando nas cidades paraibanas. Cada vez mais, preguiças são avistadas em ruas, praças e até estradas, após descerem das árvores em busca de novos pontos de vegetação. Essa movimentação, embora natural para a espécie, as expõe a riscos de atropelamento, eletrocussão e ataques de animais domésticos.
Para promover uma convivência segura e evitar acidentes ou maus-tratos, o Conselho Regional de Medicina Veterinária da Paraíba (CRMV-PB) e a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Paraíba (Semas) uniram esforços em uma campanha de proteção e sensibilização da população sobre a presença das preguiças em áreas urbanas.
Segundo o gerente executivo de Fauna Silvestre da Semas, Juan Mendonça, o aumento de ocorrências envolvendo preguiças é resultado direto da fragmentação das áreas de mata. “Esses animais são arborícolas, vivem nas árvores e se alimentam basicamente de folhas e brotos. Quando o ambiente natural é reduzido, eles precisam se deslocar para buscar alimento e abrigo, o que os leva a cruzar ruas, avenidas e até áreas residenciais. Nesses trajetos, ficam vulneráveis a atropelamentos, choques elétricos e ataques de animais domésticos”, explica.
A médica-veterinária Lilian Eloy, que atua com animais silvestres e pets não-convencionais, alerta que o comportamento calmo da preguiça pode enganar. “Apesar de parecer dócil, a preguiça se estressa com facilidade e pode reagir de forma defensiva. Suas garras são fortes e podem causar ferimentos graves. Por isso, a orientação é clara: não tente pegá-la, tocar ou mover o animal por conta própria. A preguiça não é perigosa, mas é um animal silvestre. O simples fato de tentar tocá-la pode causar estresse e acidentes. Além disso, o manejo inadequado pode resultar em ferimentos e, em situações extremas, até na morte do animal”, alerta.
Além dos atropelamentos, um dos principais riscos urbanos é a eletrocussão. As preguiças, ao tentarem cruzar redes elétricas em busca de vegetação, podem entrar em contato com transformadores de energia, que representam um perigo letal, já há registros de morte por eletrocussão em João Pessoa. Mesmo fios encapados não eliminam totalmente o risco, pois os transformadores e conexões desprotegidas são pontos críticos de descarga elétrica.
Outro fator de ameaça crescente é o ataque de cães domésticos, conforme caso já relatado em João Pessoa, o que reforça a necessidade de controle responsável desses animais, principalmente em áreas próximas a fragmentos florestais.
Com comportamento singular, a preguiça é um dos símbolos da fauna brasileira. Na Paraíba, é mais comum a preguiça-de-garganta-marrom (Bradypus variegatus), típica da Mata Atlântica. O animal possui metabolismo lento — capaz de demorar uma semana para realizar suas necessidades fisiológicas — e pode dormir até 15 horas por dia. Também apresenta uma vértebra cervical extra, o que lhe permite girar a cabeça em até 270 graus.
Lilian Eloy explica que muitos acidentes acontecem devido à humanização do comportamento do animal. “Quando a preguiça abre os braços, muita gente acredita que ela quer um abraço. Na verdade, trata-se de uma postura de defesa, indicando que o animal está assustado e pronto para se proteger”, reforça.
Cuidados essenciais quando se deparar com uma preguiça:
• Mantenha a calma e observe à distância, sem tentar capturar o animal.
• Sinalize para o trânsito, se ele estiver atravessando uma via, evitando atropelamentos.
• Acione as autoridades competentes, como o Corpo de Bombeiros (193) e a Polícia Ambiental - 190.
• Somente mova o animal se houver orientação técnica, segurando-o pelo tronco e nunca pelos membros.
• Realoque para uma árvore segura, distante de ruas e fios elétricos, caso receba autorização de órgão competente.
• Jamais leve o animal para casa, pois se trata de uma espécie silvestre protegida por lei.
(*) Ascom

Postar um comentário