Dilma deu corda para aprofundar investigações e implicar Lula, diz Palocci

Em delação, ex-ministro dos governos petistas disse que Lula pediu a ele cerca de nove vezes dinheiro em espécie com valores, em média, de R$ 50 mil. 
Antonio Palocci (Foto: Reprodução / TV Globo). 
Num novo depoimento, o ex-ministro de governos petistas Antonio Palocci delatou diversos pagamentos em dinheiro vivo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como propina pela construção da usina de Belo Monte.

A Polícia Federal anexou o depoimento a um dos inquéritos da Lava Jato. O TRF-4 homologou esta delação de Antonio Palocci em 2018.

No depoimento, o ex-ministro relata conversas com Marcelo e Emilio Odebrecht e que cerca de R$ 15 milhões foram destinados a Lula em razão da participação da empresa em Belo Monte.

Palocci conta que, a pedido de Paulo Okamoto, Marcelo Odebrecht pagou R$ 4 milhões por meio de doações ao instituto e que Marcelo teria dito que os valores seriam devidos pela obra de Belo Monte.

Palocci afirmou ainda que Lula pediu a ele - aproximadamente nove vezes - dinheiro em espécie, e que os valores, em média, chegavam a R$ 50 mil. Lula pedia que Palocci não informasse sobre os pedidos a ninguém; que em determinada oportunidade levou R$ 50 mil em espécies a Lula no terminal da Aeronáutica em Brasília, durante a campanha de 2010, dentro de uma caixa de celular na frente do motorista Cláudio Gouveia.

Palocci disse ainda que, em São Paulo, recorda-se de outro episódio de quando levou dinheiro em espécie a Lula dentro de caixa de uísque até o aeroporto de Congonhas; e que recebeu constantes chamadas telefônicas de Lula cobrando a entrega, testemunhadas pelo motorista Carlos Pocente.

Os dois motoristas prestaram depoimento à PF e confirmaram fatos narrados pelo ex-ministro.

Em um depoimento complementar, Palocci disse que “durante o crescimento da Operação Lava Jato, Dilma deu corda para o aprofundamento das investigações, uma vez que isso sufocaria e implicaria Lula”. Palocci cita uma suposta ruptura entre Lula e Dilma.

Segundo Palocci, Lula era “um ex-presidente dominante, que queria controlar o governo de sua indicada e preparar sua volta à Presidência, sendo que isso exigia um controle do financiamento lícito e ilícito do Instituto Lula e do PT, ao passo que a presidente Dilma lutava pela renovação do seu próprio mandato”.

Palocci contou ainda que, certa vez, Dilma disse que se pode fazer o diabo quando é a hora da eleição.

Palocci disse que conversou com Lula sobre o triplex em Guarujá durante a Lava Jato e perguntou ao ex-presidente: “Por que você não pega o dinheiro de uma palestra e paga o seu triplex”? E Lula respondeu: “Um apartamento na praia não cabe em minha biografia”.

O ex-ministro também detalhou as negociações de pagamento de propina com o delator Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, que acabou participando da construção de Belo Monte. De acordo com Palocci, o dinheiro foi dividido entre o MDB e o PT.

O que dizem os citados

A defesa de Lula afirmou que Antonio Palocci produziu mais uma narrativa mentirosa e mirabolante contra o ex-presidente em troca do que chamou de benefícios negociados clandestinamente com agentes do estado para produzir resultados políticos contra Lula.

Também declarou que é manifestamente ilegal o vazamento desse depoimento prestado à Polícia Federal. Segundo a defesa, essa situação deve merecer pronta iniciativa do diretor-geral do órgão e do ministro da Justiça e Segurança Pública para investigação e punição dos envolvidos.

A defesa disse ainda que Lula não recebeu qualquer valor de Palocci e que o ex-presidente não é o proprietário do triplex do Guarujá.

A defesa de Antonio Palocci e dos motoristas Cláudio Gouveia e Carlos Alberto Pocente afirmou que eles continuarão colaborando com a Justiça e que os motoristas são só testemunhas do caso.

A defesa de Otávio Azevedo afirmou que não teve acesso ao depoimento; que o cliente já prestou todos os esclarecimentos necessários; e que o inquérito sobre Belo Monte comprova a veracidade das alegações.

A Andrade Gutierrez afirmou que apoia toda iniciativa de combate à corrupção; que busca esclarecer fatos ocorridos no passado; e que segue colaborando com as investigações em curso dentro do acordo de leniência firmado com o Ministério Público Federal.

A defesa de Paulo Okamoto negou qualquer recebimento de valor de Antonio Palocci; disse que as delações da Odebrecht nunca afirmaram tal fato; e que o cliente já foi julgado e absolvido na Lava Jato.

O Instituto lula afirmou que Palocci inventou histórias sem provas para sair da prisão e que as doações ao instituto saíram da conta da Odebrecht, declaradas dentro da lei e sem contrapartidas.

A Odebrecht afirmou que está disposta a colaborar de forma eficaz com as autoridades em busca do pleno esclarecimento dos fatos narrados pela empresa e seus ex-executivos; e que segue comprometida com uma atuação ética, íntegra e transparente.

O MDB declarou que lamenta que Palocci cite indevidamente o nome de terceiros para se livrar das acusações.

A assessoria de imprensa de Dilma Rousseff afirmou que, mais uma vez, Antonio Palocci mente em delação premiada; que ele não tem provas que comprometam a idoneidade e a honra da ex-presidente; que é fantasiosa a versão de que ela teria dado corda para a Lava Jato implicar Lula; e que isso não passa de uma tentativa vazia de intrigá-la com o ex-presidente.

O Partido dos Trabalhadores tem afirmado que todas as doações foram legais e aprovadas pela Justiça.

O JN não conseguiu contato com as defesas de Emilio e Marcelo Odebrecht.

G1 / JN

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