Supostas ameaças de ataques alteram rotina nas escolas do país

Foto: Folhapress / Reprodução. 
Uma mesma foto, de armas e facas dispostas em cima de uma cama, tem circulado entre grupos de pais, alunos e professores com a ameaça de ataque a escolas de diferentes cidades do país. Apesar dos indícios de que se trata de alarme falso, essas mensagens têm preocupado e alterado a rotina escolar.

Professores relatam encontrar alunos chorando, pais que vão buscar os filhos na escola antes do horário e unidades de ensino que suspenderam atividades no pátio por medo de serem alvo de ataques. Especialistas e órgãos de segurança, no entanto, dizem que o monitoramento dessas mensagens indica que a maioria delas têm como objetivo criar pânico.

"Desde domingo (9) nosso monitoramento identificou uma explosão na circulação de mensagens com ameaças às escolas. Usam a mesma foto, só mudam o nome da escola, bairro ou cidade para ameaçar. Isso está gerando uma paralisação nas escolas", conta Luka Franca, uma das autoras do relatório que foi entregue ao governo Lula de ações para prevenir atentados no ambiente escolar.

Ela explica que esse tipo de ameaça difere do comportamento observado nas situações reais de ataques --como a morte de quatro crianças em uma creche de Blumenau (SC), na semana passada. "Os últimos casos que tivemos mostram que os autores se aproveitaram do elemento surpresa para vitimar mais pessoas. É esse objetivo deles: deixar mais vítimas. Já quem espalha essas mensagens quer criar pânico."

Ainda que os elementos indiquem que os avisos que circulam seja falsos, especialistas e autoridades orientam que toda ameaça seja denunciada à Polícia Civil e nos canais criados pelo Ministério da Justiça para que seja investigada. Quem produz e até mesmo quem compartilha essas mensagens podem responder por contravenção.

"A denúncia é importante para que se possa identificar os padrões de quem pode tentar um ataque ou alguém que quer criar pânico. É importante que a polícia identifique essas pessoas que estão fazendo as ameaças porque elas estão ajudando a incitar novos ataques", diz Letícia Oliveira, também coautora do relatório.

Segundo ela, a enxurrada de ameaças pode reforçar o efeito de contágio verificado entre os ataques recentes no país. "A gente não pode cair no pânico, mas também não pode ignorar. É preciso identificar quem está por trás dessas ameaças e qual o objetivo dessas pessoas em disseminar medo."

Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, a Polícia Militar mantém contato com as direções das escolas e 566 policiais militares atuam no policiamento realizado no entorno das unidades educacionais por meio da Ronda Escolar. O patrulhamento nas imediações também é feito por policiais a pé e em motocicletas.

Ainda de acordo com a pasta, todos os casos de ameaça são investigados e as diretorias das unidades de ensino estão em alerta para qualquer denúncia, que, se confirmada, é tratada em conjunto com a Vara da Infância e Juventude.

Apesar da orientação das autoridades de manter as atividades normalmente, os alertas têm feito escolas e universidades particulares a adotar medidas para aumentar a sensação de segurança.

Em Brasília, por exemplo, um colégio mudou o calendário de provas para não coincidir com o dia 20 de abril, data em que, segundo publicações que circulam nas redes sociais, são anunciados novos ataques --a data coincide com o massacre de Columbine que resultou na morte de 15 pessoas nos Estados Unidos em 1999, e o aniversário do ditador nazista Adolf Hitler.

Na capital paulista, instituições de ensino afirmam que reforçaram a segurança, limitaram as visitas ao campus ou solicitaram reforço de rondas na região.

Alguns pedem aos responsáveis dos alunos atenção ao "menor sinal de comportamento não habitual" e comunicação com a escola, já outros afirmam que os responsáveis devem orientar seus filhos a utilizar as redes sociais de forma segura. Nenhuma das unidades, porém, fala em suspensão de aulas devido às ameaças.

A sensação para familiares e alunos ainda é de desamparo. Uma mãe de uma jovem de 15 anos que estuda na rede estadual em São Paulo afirma que está assustada com os anúncios que rondam as redes sociais. Ela é tia de um aluno da Thomazia Montoro, onde um ataque no último dia 27 de março resultou na morte de uma professora, e o namorado da sua filha também estuda na mesma escola.

Por isso, foi ela quem buscou os jovens no dia do ataque e afirma que, além provocar medo, as ameaças fazem com que ela queira que as instituições de ensino reforcem a segurança para sua filha voltar a estudar.

Ela relata que a jovem está há uma semana em casa sem ir para a escola devido ao medo e compartilha do medo da filha que tira seu sono. Diante as ameaças e sustos, ela afirma que prefere a filha em casa sem ir para a escola pois tem medo de algo acontecer e se sentir culpada depois.

O medo não se restringe aos familiares que tiveram contato com os ataques recentes ou escolas que foram alvo de ameaças de redes sociais. Em outra escola de São Paulo, um professor que pediu para não ser identificado relata que tem sido questionado pelos alunos sobre o motivo de o colégio não ter seguranças armados.

Apesar da sensação generalizada de insegurança no país, as empresas responsáveis pelas redes sociais não têm colaborado com as autoridades para retirar conteúdos de ameaças e que promovem autores de ataques anteriores.

Diante dos recentes episódios de ataques e sensação generalizada de insegurança no país, empresas responsáveis pelas redes sociais participaram de uma reunião no Ministério da Justiça nesta segunda-feira (10).

Durante o encontro, do qual participaram representantes de YouTube, Meta, Twitter, Kwai, TikTok, WhatsApp e Google, a pasta pediu que as plataformas combatam de maneira mais eficiente os perfis que fazem apologia da violência ou ameaça às escolas.

A posição do Twitter, porém, gerou mal-estar no encontro. Na plataforma, a reportagem encontrou dezenas de usuários com nome que glorificam o autor do massacre em Suzano (que deixou oito mortos em 2019), posts em que há ameaças à escolas com imagens de armas e mensagens que fazem apologia do nazismo.

Procurada, a rede social respondeu com um emoji de cocô, prática instituída pela empresa desde 19 de março. O Ministério Público Federal em São Paulo cobrou que a empresa informe se está tomando medidas para moderar publicações que possam configurar incitação à violência e atentados em escolas.

Além do Twitter, o WhatsApp diz que não tem acesso ao conteúdo das mensagens trocadas entre usuários e não realiza moderação de conteúdo. Porém, a rede social afirma não permitir o uso para fins ilícitos ou que instigue ou encoraje condutas que sejam ilícitas ou inadequadas. Nos casos de violação dos termos, as contas podem ser desativadas ou suspensas.

Em nota, o Kwai afirma que atua no combate a informações que ameacem a sociedade e destaca que acompanha de perto as discussões sobre o tema. A empresa se coloca ainda à disposição para cooperar com as autoridades brasileiras.

O TikTok também diz que não tem espaço para extremismo violento e que trabalha para remover qualquer conteúdo e indivíduos que prejudiquem "a experiência criativa e alegre que as pessoas esperam em nossa plataforma".

Já o Google relata que tem trabalhado em parceria com outros órgãos públicos e organizações da sociedade civil em prol da segurança das pessoas contra conteúdos nocivos que violam nossas políticas e desrespeitam nossas Diretrizes de Comunidade, como discursos de ódio e outras violências.

A reportagem também procurou a Meta, responsável pelo Instagram e pelo Facebook. A empresa afirma que não permite que organizações ou indivíduos que anunciem uma missão violenta ou que estejam envolvidos em violência tenham presença nas plataformas. Além disso, disponibiliza ferramentas para que pais e responsáveis supervisionem o uso das redes sociais de seus filhos nos aplicativos. Por fim, a empresa pede para que as pessoas denunciem os conteúdos que violam as regras e diz que colabora com autoridades locais e responde às solicitações governamentais de dados nos termos da lei.

O QUE FAZER?

Especialistas afirmam que ameaças não devem ser ignoradas. É preciso identificar quem está por trás delas e qual é o objetivo dos autores

Denuncie. Mesmo que se trate de ameaças falsas, especialistas apontam que a Polícia Civil e canais criados pelo Ministério da Justiça precisam ser notificados, pois quem compartilha essa mensagem também pode responder criminalmente pela ameaça

Pais, alunos e escolas devem manter diálogo estreito sobre as ameaças, receios e medidas adotadas. A transparência das ações é importante para aumentar a sensação de segurança

Escolas prezam pelo reforço da segurança e pela comunicação com pais e responsáveis pelos alunos. É importante, segundo as instituições de ensino, que qualquer mudança no comportamento dos alunos seja informado ao colégio

COMO DENUNCIAR AMEAÇAS DE ATAQUES CONTRA ESCOLAS

Como parte da Operação Escola Segura, o Ministério da Justiça lançou um canal no site para que sejam denunciados sites, blogs e publicações nas redes sociais. O site para denúncia é o www.mj.gov.br/escolasegura

Em São Paulo, no caso de ameaça, é possível ligar para o 181, canal da polícia que permite que qualquer pessoa forneça à polícia informações sobre delitos e formas de violência, com garantia de anonimato (*) Folhapress, via Msn


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